Agravamento de casos de sarampo no Brasil é tema de encontro em Porto Alegre

Assunto foi um dos destaques na programação do segundo dia da 41ª edição do Simpósio sobre Dermatologia Tropical, o DERMATROP

Os surtos de sarampo no Brasil trazem grande preocupação e fizeram com que médicos de diversas especialidades voltassem a estar atentos para uma doença que, antes, era considerada erradicada no país. O evento acontece no Hotel Deville Prime, em Porto Alegre (RS) até sábado (01/06) e reúne dermatologistas e profissionais de outras áreas. A médica dermatologista, Francisca Regina Oliveira Carneiro (PA), traçou um panorama preocupante sobre o cenário no Brasil, principalmente na região norte do país.

– Existem picos de epidemia, que em geral ocorrem no final de inverno e início da primavera. O que é muito grave é que em países com alta taxa de natalidade, os surtos são grandes e irregulares. Também há um fator preocupante em relação a segunda dose. Lembramos que 15% das crianças vacinas não conseguem desenvolver imunidade na primeira dose – afirmou a palestrante que possui graduação em Medicina pela Universidade Federal do Pará, mestrado em Medicina (Dermatologia) e doutorado em Medicina (Dermatologia) pela Universidade Federal de São Paulo.

O cenário foi agravado com a vinda de estrangeiros da Venezuela. Amazonas é o estado que lidera em número de casos, tendo chegado em 2018 a mais de 9.803 casos confirmados. Na sequência aparecem estados de Roraima e Pará. O Rio Grande do Sul, vem logo em seguida, com 46 casos em 2018. Os estados considerados pelo Ministério da Saúde com o surto ativo, em 2019, são Amazonas, Roraima e Pará. O RS, apesar de 46 casos no ano passado, é considerado com surto encerrado em 2018.

O sarampo é uma doença infecciosa, febril, aguda, exantemática, extremamente contagiosa e de complicações e óbitos. Evolui em 30% dos casos para complicações e é muito preocupante do ponto de vista de mortalidade infantil. O vírus pode ser propagado em distâncias curtas. Fica suspenso no ar em partículas por várias horas e por isso há o temor de fácil propagação.

A programação trouxe ainda a temática do Diagnóstico Diferencial dos Exantemas virais, com a dermatologista Ana Paula Dornelles da Silva Manzoni (RS) e da Varicela Zoster: Manifestações Clínicas, Tratamento e Prevenção, com Walter Belda Junior (SP).

Durante a tarde, os temas foram mictobacteriose, pênfigo e dermatoses por animais peçonhentos, com a apresentação do médicos Vidal Haddad Junior e Arival Cardoso de Brito. A AIDS, com temática de manifestações dermatológicas, controle e Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) e Profilaxia Pós-Exposição (PEP). O painel contou com a presença dos médicos Paula Berenhauser D’ Elia (RS), Beatriz Moritz Trope (RJ) e Gustavo Gonçalves C. Pinto Corrêa (RS).

Hanseníase: um falso cenário que preocupa

Outro tema que foi destaque foi a hanseníase. Desde 1994, foi anunciado que não há mais casos da doença no Rio Grande do Sul. Os números, porém, são questionados por médicos dermatologistas que alertam para a interrupção do trabalho de pesquisa feito para diagnóstico da doença. As estatísticas mostravam 134 casos, em 2014; 114 casos, em 2015; 103 casos, em 2016 e 109 casos, em 2017. Em 2018 não há dados disponíveis.

– O termo eliminado, quando falamos de problema de saúde pública, vem de um indicador que diz que há prevalência menor do que um doente para cada dez mil habitantes. Quando isso acontece, teoricamente ela está controlada, mas não quer dizer que está erradicada. Existem casos e não estão sendo notificados. Existe uma endemia oculta grande no RS. Outros agravantes prioritários foram colocados à frente, e deixou-se de ter um olhar com mais atenção para hanseníase. Ou seja, a doença cai no esquecimento e não se faz mais diagnóstico. Casos novos estão progredindo e o grande problema da hanseníase não são lesões de pele, mas o acometimento de troncos, mãos, rosto e pés que levam a deformidades físicas, ou seja, ela é uma doença incapacitante – explica a médica dermatologista e associada da Sociedade Brasileira de Dermatologia – Secção RS, Letícia Maria Eidt.

Outro fator lembrado pela médica é o histórico preconceito que existe com os pacientes que têm a doença, no passado conhecida por Lepra. A hanseníase é uma doença contagiosa causada pela transmissão do Bacilo de Hansen, através da respiração. Ela se manifesta em diversos sintomas, como através de lesões na pele, ausência de sensibilidade à dor e ao tato em qualquer parte do corpo. Durante as aulas realizadas no primeiro painel sobre hanseníase, os especialistas debateram clínicas usuais, diagnóstico laboratorial, manejo das reações, tratamento e panorama atual da doença. A abordagem contou com a participação dos médicos Sinésio talhari (AM), Heitor de Sá Gonçalves (CE), Egon Daxbacher (RJ), Sandra Maria Barbosa Durães (RJ), Maria Araci Pontes Aires (CE), Gerson Oliveira Penna (DF) e Letícia Maria Eidt (RS).

O DERMATROP é promovido pela Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), com o apoio da SBD-RS, seccional gaúcha. O encerramento do evento, no sábado (01/06), conta com atividades relacionadas a micoses, dermatozoonoses e vacinas. A programação completa pode ser conferida no site sbd.org.br.

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Sobre a SBD/RS

A Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) é a única instituição reconhecida oficialmente pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e pela Associação Médica Brasileira (AMB) como representante dos dermatologistas no Brasil. Os médicos dermatologistas a ela ligados precisam obter o Título de Especialista que atesta a sua capacitação.

 

A secção SBD-RS é a sua representante no território do Rio Grande do Sul.

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