Evento abordou alopecia, imunobiológicos na infância, rejuvenescimento masculino e doenças emergentes da pele
O primeiro dia da Jornada Gaúcha de Dermatologia, promovida pela Sociedade Brasileira de Dermatologia – Secção do Rio Grande do Sul (SBD-RS), foi marcado por temas de grande interesse clínico e social, como alopecia androgenética (queda de cabelo de origem hormonal), uso de imunobiológicos em crianças, rejuvenescimento masculino e doenças virais reemergentes. O encontro, que iniciou nesta sexta-feira (17/10) no Barra Shopping Sul, reúne especialistas do Estado e de outras regiões do país para discutir tendências, tratamentos e inovações que estão transformando a prática dermatológica.
Sessão 1 – Avanços terapêuticos e desafios clínicos na dermatologia contemporânea
Ao abordar o uso do minoxidil oral no tratamento da calvície, o Dr. Leandro Damiani enfatizou a importância de compreender sua ação no organismo e de ajustar a dose com cautela.
“O minoxidil oral tem um pico de ação nas primeiras duas horas após a ingestão, e esse pico é proporcional à dose. Quanto maior for a dose, maior a chance de efeitos colaterais. Por isso, é importante começar com doses mais baixas e aumentar gradualmente”, explicou o Dr. Damiani.
Em seguida, a médica dermatologista Dra. Luciana Boff Abreu apresentou os avanços mais recentes no tratamento da dermatite atópica infantil, destacando o papel transformador dos medicamentos biológicos no controle da doença.
“Os medicamentos biológicos representam uma nova era no tratamento das doenças inflamatórias crônicas. São produzidos por engenharia genética, a partir de modificações no DNA recombinante, resultando em moléculas grandes e complexas, geralmente de uso injetável e de alto custo”, disse.
O médico dermatologista Dr. Matheus Teodoro destacou que compreender as diferenças anatômicas e estéticas entre homens e mulheres é fundamental para garantir resultados harmônicos e naturais, ressaltando que o principal cuidado é preservar a identidade masculina do rosto. Segundo ele, a face do homem é mais angulada, com fronte oblíqua e estrutura óssea mais pronunciada. Até o olhar tem características próprias — é mais amendoado, com pálpebra superior levemente caída —, o que exige planejamento preciso para manter a expressão e o posicionamento do supercílio.
Para finalizar, a Dra. Flávia Reginatto ressaltou que os exantemas virais continuam sendo um desafio diagnóstico na prática clínica e exigem constante atualização do profissional.
“Nem sempre o que está descrito nos livros é o que encontramos nos consultórios. A cada novo vírus ou alteração no nosso estado imune, os exantemas também se modificam. Por isso, compreender seus padrões e reconhecer as diferenças é essencial para um diagnóstico preciso”, afirmou.
Discutindo rejuvenescimento periorbital
O rejuvenescimento periorbital — área que compreende a região ao redor dos olhos — tem ganhado destaque na dermatologia estética por envolver uma das partes mais delicadas e expressivas do rosto. A pele fina, a movimentação constante dos músculos faciais e a predisposição ao acúmulo de pigmentos e flacidez tornam essa região especialmente suscetível aos sinais de envelhecimento. Por isso, o manejo dessa área requer técnicas personalizadas, conhecimento anatômico detalhado e abordagem integrada, combinando procedimentos como lasers, bioestimuladores, preenchedores e cuidados tópicos. Na Jornada Gaúcha de Dermatologia, o tema foi debatido sob diferentes perspectivas clínicas e estéticas, reforçando a busca por resultados naturais, seguros e harmônicos.
A dermatologista e diretora da SBD-RS, Dra. Laura de Mattos Milman (RS), mediou o debate ao lado das dermatologistas Dra. Nediana Bialeski, Dra. Rochele Machado Durgante e Dra. Gabriela Maldonado, e ressaltou a importância da região periocular nos tratamentos estéticos, destacando que ela é uma das primeiras áreas a refletir o envelhecimento facial e está diretamente ligada à expressão e às emoções.
“A região ao redor dos olhos é um dos principais indicadores do envelhecimento e concentra grande parte das queixas dos pacientes. Cerca de 80% das pessoas que buscam procedimentos minimamente invasivos desejam tratar essa área. Por isso, é essencial compreender suas particularidades anatômicas e escolher abordagens seguras e individualizadas para cada caso”, finalizou.
Sessão 2 – Impactos dermatológicos dos novos tratamentos metabólicos e avanços nas doenças autoimunes da pele
Os novos medicamentos voltados ao controle da obesidade, como os agonistas de GLP-1, têm trazido mudanças significativas no consultório dermatológico. A rápida perda de peso pode impactar diretamente a saúde e a aparência da pele, provocando flacidez, ressecamento, alterações de colágeno e piora de condições pré-existentes, como celulite e estrias. Além disso, o uso prolongado dessas drogas pode alterar o equilíbrio nutricional, afetando unhas, cabelos e mucosas. Por isso, o acompanhamento dermatológico torna-se essencial durante o processo de emagrecimento, tanto para orientar o cuidado preventivo quanto para indicar tratamentos regenerativos e estéticos que auxiliem na recuperação da firmeza e da vitalidade da pele.
A médica dermatologista Dra. Ana Paula Dornelles Manzoni abordou a relação entre o uso de agonistas de GLP-1 e as alterações na pele, esclarecendo que grande parte do que circula nas redes sociais sobre o tema não tem comprovação científica.
“O que se observa nos estudos atuais é que a perda significativa de peso pode levar à redução da capacidade de remodelação do colágeno e à desorganização das fibras elásticas, resultando em pior qualidade mecânica da pele e maior flacidez. Ou seja, o efeito não é direto da medicação, mas sim uma consequência da rápida perda de peso”, afirmou.
Encerrando o dia, a médica dermatologista Dra. Patrícia Damiani Biavatti Gava destacou que o vitiligo e a alopecia areata são doenças de base imunológica que geram impacto significativo na autoestima e na qualidade de vida dos pacientes. O vitiligo, com prevalência estimada de 0,5% no Brasil, resulta de uma complexa interação entre fatores genéticos, ambientais e imunológicos. O estresse oxidativo em indivíduos predispostos desencadeia uma resposta imune que leva à destruição dos melanócitos, e a compreensão desses mecanismos tem permitido o avanço de novas abordagens terapêuticas mais eficazes e seguras.
Também foram apresentados casos clínicos de serviços credenciados, destacando a diversidade e a qualidade da formação dermatológica no Estado. A Dra. Patricia Damiani Biavatti Gava abriu a sessão com o caso clínico do Serviço da Santa Casa, seguida pela Dra. Martina Souilljee Birck, representando o Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA). Na sequência, a Dra. Liana Elias Fernandes apresentou o trabalho desenvolvido na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), e a Dra. Kassia Carolina Surdi trouxe o caso da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Encerrando a série, o Dr. Henrique Hauck do Nascimento apresentou o estudo do Serviço da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS).
O sábado (18/10) promete uma agenda igualmente intensa, com debates sobre acne, oleosidade e cosmecêuticos, além da aplicação de inteligência artificial em lesões melanocíticas e das novas terapias para dermatite atópica e psoríase. A programação também abordará temas práticos como dermatoscopia ungueal, cuidados pré e pós-operatórios, e radiofrequência. À tarde, ganham destaque as discussões sobre uso ético de mídias digitais na medicina e rejuvenescimento perioral, encerrando o evento com a premiação dos melhores trabalhos científicos e a Assembleia da SBD-RS.
A programação completa pode ser conferida em www.dermatologia2025.com.br
