Possível subnotificação de casos de sífilis preocupa dermatologistas

Pandemia da COVID-19 pode ter efeito no diagnóstico de casos no Brasil e no Rio Grande do Sul

 

A redução do número de casos de pacientes registrados com doença não é bem recebida pelos especialistas que alertam para uma possível situação de subnotificação. O cenário acontece no Brasil e se repete no Rio Grande do Sul. A preocupação é com um eventual prejuízo nas estratégias de enfrentamento desse problema de saúde pública. Os últimos números disponibilizados pelo Ministério da Saúde, referentes ao intervalo de janeiro a junho de 2020, dão conta de 49 mil ocorrências de sífilis adquirida no Brasil. Isso corresponde a uma média de 8,2 mil casos registrados por mês, ou seja, uma queda de 36% em comparação ao que foi informado a cada 30 dias em 2019.

A sífilis é uma Doença Sexualmente Transmissível (DST), também denominada de infecção sexualmente transmissível, que tem preocupado muito os médicos pela forma endêmica como se instalou no Brasil. É causada por uma bactéria chamada Treponema pallidum e pode ser transmitida por qualquer tipo de contato sexual, seja ele oral, vaginal ou anal.

“A manifestação inicial da doença é o surgimento de uma ferida, chamada cancro, no local onde ocorreu a entrada da bactéria no individuo. Essa fase é chamada de sífilis primária. Normalmente o cancro surge duas ou quatro semanas após o contágio, mas pode aparecer até três meses depois. Essa lesão é assintomática na maioria dos casos, não causando dor ou sangramento. Assim, somente as lesões na cavidade oral, pênis, vulva ou ânus são visíveis. Se a inoculação ocorrer na vagina ou reto, essa lesão inicial pode não ser percebida. Além disso, o cancro é temporário, desaparecendo algumas semanas após o surgimento, mas isso não significa cura da doença”, explica o médico dermatologista e integrante do Conselho da Sociedade Brasileira de Dermatologia – Secção RS (SBD-RS), Andre Costa Beber.

Após um período, que pode variar de dias a meses, podem surgir novas manifestações da doença. As mais comuns são manchas avermelhadas disseminadas pela pele e feridas na boca e/ou região anogenital. Essa fase é chamada de Sífilis Secundária.

Atenção com casos na fase inicial é fundamental

Os indivíduos com essas formas iniciais da sífilis são portadores de grande quantidade de bactérias e, portanto, transmitem facilmente a doença. Mas é importante lembrar que a intensidade desses sintomas é variável e transitória, podendo passar desapercebidos, ou dar uma falsa sensação de cura, contribuindo para a disseminação da doença.

Além dessas fases iniciais, boa parte dos doentes não tratados vai evoluir para a Sífilis Tardia, em que órgãos internos são comprometidos, podendo levar a danos permanentes no sistema cardiovascular (destruição de estruturas cardíacas e aneurismas), no sistema nervoso (podendo causar cegueira, surdez e demência) e no esqueleto, com dano ósseo.

A sífilis não tratada tem três grandes consequências graves:

1o o aumento na disseminação dos casos2o a evolução para formas tardias;2o o contágio de mulheres em idade fértil, com consequências irreparáveis ao feto, que pode nascer com sequelas permanentes.

A sífilis adquirida é a que se transmite sexualmente. Já a do tipo congênita é, quando a mulher engravida tendo sífilis, ou adquire a sífilis durante a gestação, e a transmite ao feto.

Tratamento

A sífilis tem tratamento conhecido e eficaz, disponível em todas as Unidades Básicas de Saúde do SUS, sendo curável quando adequadamente tratada. Entretanto, dados estatísticos mostram que os números da sífilis estão aumentando assustadoramente em todo o mundo.

No Brasil, entre 2011 e 2020 foram quase 900 mil casos da doença. A comparação de dados entre o RS e o BR assusta mais ainda. Enquanto do Brasil, em 2019, foram detectados 74,2 casos a cada 100.000 habitantes, no RS, no mesmo período, foram 131,4 casos por 100.000 habitantes. No ano de 2011, esses números eram de 9,5 no Brasil e 8,3 no RS, representando, no nosso estado, um aumento de 1.500% na incidência da doença.

Esse aumento pode ser explicado em parte, pelo sucesso alcançado no tratamento da AIDS. O temor causado pelo estigma de uma doença mortal, durante o surgimento dessa doença, nas décadas finais do século passado, levou toda uma geração às práticas do sexo seguro, com a incorporação do uso da camisinha. Nesse período, os números de casos das DSTs diminuíram muito, levando a falsa ideia de que essas doenças poderiam desaparecer. A nova geração sexualmente ativa, que cresceu após aquele período, e só conhece a AIDS como uma doença tratável, apesar de ter conhecimento dessas práticas, não tem o mesmo cuidado. Assim, vemos uma explosão dos casos de sífilis em jovens.

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Sobre a SBD/RS

A Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) é a única instituição reconhecida oficialmente pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e pela Associação Médica Brasileira (AMB) como representante dos dermatologistas no Brasil. Os médicos dermatologistas a ela ligados precisam obter o Título de Especialista que atesta a sua capacitação.

 

A secção SBD-RS é a sua representante no território do Rio Grande do Sul.

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