Hidroclorotiazida e câncer de pele não-melanoma – Dra. Vanessa Santos Cunha

A hidroclorotiazida é uma das drogas mais frequentemente prescritas para controle de hipertensão arterial sistêmica e insuficiência cardíaca congestiva. Seu potencial fotossensibilizante é bem conhecido e, mais recentemente, vem se aventando a associação desta droga com o câncer da pele.

Desde 2009, alguns estudos começaram a aventar a possibilidade da hidroclorotiazida aumentar o risco de câncer da pele.

Somente em meados de 2017, esta associação se tornou mais clara quando foi relacionado o uso a longo prazo da hidroclorotiazida com o câncer do lábio.2 Este estudo, de um grupo de pesquisadores da Dinamarca, avaliou 633 casos de carcinoma epidermóide de lábio e concluiu que uma dose acumulada de 100.000 mg de hidroclorotiazida (cerca de 10 anos de uso, nas doses usuais), aumentou em 7 vezes o risco de câncer de lábio. Ou seja, 11% de todos os casos de carcinoma epidermóide de lábio poderiam ser atribuídos à hidroclorotiazida.

O maior impacto no assunto, veio com o estudo publicado em abril de 2018 no Jornal da Academia Americana de Dermatologia.3 O mesmo grupo de pesquisadores do norte europeu, mostrou que o uso de hidroclorotiazida aumenta o risco de câncer de pele não-melanoma e que esta associação é dose-dependente. Eles avaliaram 102.366 pacientes com câncer de pele não-melanoma. Uma dose acumulada do diurético de cerca de 50.000 mg (ou cerca de 6 anos de uso contínuo) aumentou o risco de carcinoma basocelular (CBC) em 1,29 vezes e de carcinoma epidermóide (CEC), em 3,98 vezes. Se a dose acumulada for de 100.000 mg de hidroclorotiazida, o risco de CBC aumenta em 1,54 vezes e de CEC, em 7,38 vezes. Neste caso, 1 a cada 11 casos de CEC são atribuídos à hidroclorotiazida. Não houve aumento do risco de CBC e CEC com outros anti-hipertensivos e diuréticos, inclusive considerando outras drogas que comumente são associadas à hidroclorotiazida. O risco foi significativamente maior em menores de 50 anos e mulheres.

A grande limitação destes estudos é o fato de não considerarem os maiores fatores de risco para câncer da pele, ou seja, exposição à radiação ultravioleta e fenótipo dos pacientes.

Em conclusão, pacientes com maior risco de câncer de pele, ou seja, aqueles com pele clara e olhos claros e com história de alta exposição ultravioleta devem ser examinados rotineiramente por um especialista para o diagnóstico precoce de neoplasias malignas da pele, especialmente se forem usuários de hidroclorotiazida. São necessários mais estudos para que possamos orientar nossos pacientes quanto ao uso a longo prazo de hidroclorotiazida e o real aumento de risco de câncer da pele.

Autor: Dra. Vanessa Santos Cunha

A SBD-RS não se responsabiliza pelo conteúdo dos artigos apresentados na Palavra do Dermato. O artigo apresentado acima é de total responsabilidade do autor.

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